Moçambique luta pela consciência ambiental: Desafios e soluções na gestão de resíduos e educação



Maputo, Moçambique A protecção do meio ambiente em Moçambique, com destaque para a cidade capital, enfrenta desafios consideráveis, marcados pela urgência de uma gestão eficaz dos resíduos sólidos e líquidos e por uma educação ambiental mais robusta e sistemática. Numa altura em que os impactos da degradação ambiental são cada vez mais visíveis, as autoridades municipais e instituições educativas intensificam esforços para fomentar a consciência ecológica, embora reconheçam que o caminho rumo à sustentabilidade ainda seja longo e árduo.

A actuação municipal e os obstáculos na prática

O Município de Maputo tem promovido acções voltadas à educação ambiental, implementando projectos em diversos distritos municipais. De acordo com Raú Vasco, trabalhador municipal, têm sido realizados workshops com chefes de quarteirão, com o propósito de debater práticas sustentáveis e introduzir a separação do lixo como medida preventiva de degradação ambiental.



Estes esforços têm resultado na criação de clubes ambientais em escolas, com o apoio de organizações parceiras, como a Engenharia Sem Fronteiras, e em campanhas de sensibilização em mercados e espaços de grande concentração populacional – locais apontados como focos críticos na produção descontrolada de resíduos.

Todavia, o Município depara-se com entraves significativos, entre os quais se destacam a mentalidade colectiva desfavorável à conservação ambiental e a insuficiência de meios financeiros. A deposição indiscriminada de lixo em praias, valas de drenagem e cursos de água resulta em entupimentos, inundações, poluição visual e olfactiva, bem como na destruição da biodiversidade marinha. A inexistência de contentores adequados em muitos bairros mina os esforços de munícipes conscientes e voluntários ambientais.



Ao comparar com países vizinhos, como a África do Sul, onde a legislação ambiental é mais rigorosa e prevê multas severas para infractores, Moçambique apresenta limitações estruturais e institucionais que impedem a aplicação eficaz de medidas sancionatórias. Segundo fontes locais, a percepção social sobre o lixo, ainda associada a uma responsabilidade alheia, constitui o maior desafio para a conservação do meio ambiente.

A escola como pilar da educação ambiental

As instituições de ensino assumem um papel cada vez mais relevante no processo de formação de consciências ecológicas. Segundo o Professor Tel Magaia, a abordagem ambiental nas escolas é transversal e visa transmitir aos alunos a noção de que “o meio ambiente é tudo quanto nos rodeia”, desde os recursos naturais às estruturas sociais.

A Professora Isabela, por seu turno, refere que a educação ambiental é integrada no currículo através da disciplina de Ciências Naturais, destacando-se a importância de manter os espaços comunitários limpos. A sua escola, situada num dos bairros suburbanos de Maputo, destaca-se por ter implementado um clube ambiental onde os alunos aprendem, na prática, a separar e reutilizar resíduos, com forte apoio das famílias e da comunidade local.

Actividades como a criação de hortas escolares têm também ganhado espaço no modelo educativo, promovendo competências práticas e contacto com a terra. O Professor Magaia acrescenta que estas práticas têm efeitos positivos na saúde pública, ao reduzirem focos de doenças como a cólera, frequentemente associadas à má gestão de resíduos e à poluição dos espaços escolares.

Gestão abrangente dos resíduos e consciência colectiva

Apesar de a atenção pública centrar-se sobretudo nos resíduos sólidos, os resíduos líquidos também representam um risco ecológico grave, sobretudo quando despejados sem tratamento pelos agentes económicos. Fontes ambientais denunciam a poluição das águas costeiras e dos lençóis freáticos, apelando a um controlo mais rigoroso e a campanhas de informação sobre os impactos da contaminação hídrica.

As campanhas de sensibilização comunitária – realizadas em bairros, escolas e mercados – têm-se revelado ferramentas úteis para reforçar a mensagem ambiental junto da população. Contudo, a falta de infraestruturas adequadas, como aterros sanitários com gestão técnica e zonas de compostagem, limita o alcance dos resultados pretendidos.

A prática generalizada de enterrar plásticos e outros resíduos não biodegradáveis em terrenos baldios representa um sério risco ecológico, uma vez que compromete a fertilidade dos solos e prolonga os danos por décadas, dado o lento processo de decomposição desses materiais.

Caminho sustentável requer aposta em educação e infraestrutura

A protecção ambiental em Moçambique exige um compromisso multissectorial que una educação, sensibilização pública, vontade política e investimento em infraestruturas básicas. A implementação de políticas de gestão integrada de resíduos, a promoção da economia circular e a valorização de práticas educativas ambientais nas escolas e comunidades são fundamentais para a edificação de sociedades saudáveis, resilientes e ambientalmente responsáveis.

O apelo vai para os decisores políticos, cidadãos, empresas e comunidade internacional: só através de um esforço colectivo e contínuo será possível garantir um ambiente limpo, seguro e sustentável para as gerações actuais e futuras.

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